Quando
pensamos na enfermagem, a primeira imagem que nos vem à cabeça é a de uma
pessoa cuidadosa, asseada, bem afeiçoada, com vestes cândidas e prontas a
atender todos os pedidos, sem questionar, sem ponderar, mesmo que esse
pedido seja inapropriado.
Agora
imaginemos o que Florence diria se encontrasse a enfermagem nesta posição de
submissão, agindo de forma automática, sem avaliar as condutas. Certamente
quando ela vislumbrou as atividades da enfermagem não pensou que a sua voz
seria abafada e seus pensamentos seriam desvirtuados pela força da implantação
da revolução industrial e a implementação do capitalismo.
A enfermagem
nos primórdios da sua história era exercida de forma artesanal, sem normas, e
por entidades de caridade (em sua grande maioria) geralmente uma assistência oferecida
por conventos e mosteiros ou Santas Casas, pois as doenças eram vistas como
castigos dos céus e/ou divindades e que aqueles que favoreciam a recuperação
estariam se fortalecendo espiritualmente. Por outro lado estes mesmos doentes
atendidos pelas assistências religiosas eram pessoas que geralmente
não possuíam bens, não tinham familiares responsáveis, estavam
abandonados à própria sorte. Portanto, quando estes doentes ficavam
curados não tinham para onde ir, e permaneciam nos locais de tratamento, muitas
vezes em troca de alimento e guarida. Em troca ofereciam ajuda para cuidar
daqueles que ainda estavam internos, e assim surgiam os primeiros cuidadores,
que mais adiante daria origem ao que hoje conhecemos como ENFERMAGEM.
As práticas de
saúde medievais focalizavam a influência dos fatores socio-econômicos e
políticos da sociedade feudal, e as relações destas com o cristianismo. Esta
época corresponde ao aparecimento da enfermagem como prática leiga,
compreendido entre os séculos V e XIII. Foi um período que deixou como legado
uma série de valores que, com o passar dos tempos, foram aos poucos legitimados
e aceitos pela sociedade como características inerentes à enfermagem. A
abnegação, o espírito de serviço, a obediência e outros atributos dão à
enfermagem, não uma conotação de prática profissional, mas de sacerdócio.
A
retomada da ciência, o progresso social e intelectual da Renascença e a
evolução das universidades não constituíram fator de crescimento para a
enfermagem. Enclausurada nos hospitais religiosos, permaneceu empírica e
desarticulada durante muito tempo, vindo a desagregar-se, ainda mais a partir
dos movimentos de Reforma Religiosa e da conturbada Santa Inquisição. O
hospital, já negligenciado, passa a ser um insalubre depósito de doentes, onde
homens, mulheres e crianças utilizam as mesmas dependências, amontoados em
leitos coletivos.
Sob exploração
deliberada, considerada um serviço doméstico, pela queda dos padrões morais que
a sustentava, a prática de enfermagem tornou-se indigna e sem atrativos para
mulheres de classe social elevada. Esse processo de desinteresse pela
enfermagem durou até o aparecimento do Capitalismo e a construção dos hospitais
pelos grandes capitalistas. Este movimento inicia-se com a Revolução Industrial
no século XVI que termina com o surgimento da Enfermagem moderna na Inglaterra,
no século XIX.
Com o
surgimento da figura de Florence Nightingale a enfermagem passou a ser
direcionada por princípios e condutas norteadoras visando o aprimoramento desta
atividade. Esta dama da alta sociedade, filha de pais ingleses mas de origem
italiana, traz um conceito simples porém eficaz para as atividades da
enfermagem, ela organizou as condutas daqueles que exerciam as atividades de
cuidados com os doentes até aquele momento, Florence aplicou conceitos básicos
de higiene, e educação doméstica que chamou de Teoria Ambientalista...
(continua)