sexta-feira, 3 de maio de 2013

A voz de Florence Nightingale



Quando pensamos na enfermagem, a primeira imagem que nos vem à cabeça é a de uma pessoa cuidadosa, asseada, bem afeiçoada, com vestes cândidas e prontas a atender  todos os pedidos, sem questionar, sem ponderar, mesmo que esse pedido seja inapropriado. 
Agora imaginemos o que Florence diria se encontrasse a enfermagem nesta posição de submissão, agindo de forma automática, sem avaliar as condutas. Certamente quando ela vislumbrou as atividades da enfermagem não pensou que a sua voz seria abafada e seus pensamentos seriam desvirtuados pela força da implantação da revolução industrial e a implementação do capitalismo.
A enfermagem nos primórdios da sua história era exercida de forma artesanal, sem normas, e por entidades de caridade (em sua grande maioria) geralmente uma assistência oferecida por conventos e mosteiros ou Santas Casas, pois as doenças eram vistas como castigos dos céus e/ou divindades e que aqueles que favoreciam a recuperação estariam se fortalecendo espiritualmente. Por outro lado estes mesmos doentes atendidos pelas assistências religiosas eram pessoas que geralmente não possuíam bens, não tinham familiares responsáveis, estavam abandonados à própria sorte. Portanto, quando estes doentes ficavam curados não tinham para onde ir, e permaneciam nos locais de tratamento, muitas vezes em troca de alimento e guarida. Em troca ofereciam ajuda para cuidar daqueles que ainda estavam internos, e assim surgiam os primeiros cuidadores, que mais adiante daria origem ao que hoje conhecemos como ENFERMAGEM.
As práticas de saúde medievais focalizavam a influência dos fatores socio-econômicos e políticos da sociedade feudal, e as relações destas com o cristianismo. Esta época corresponde ao aparecimento da enfermagem como prática leiga, compreendido entre os séculos V e XIII. Foi um período que deixou como legado uma série de valores que, com o passar dos tempos, foram aos poucos legitimados e aceitos pela sociedade como características inerentes à enfermagem. A abnegação, o espírito de serviço, a obediência e outros atributos dão à enfermagem, não uma conotação de prática profissional, mas de sacerdócio.
            A retomada da ciência, o progresso social e intelectual da Renascença e a evolução das universidades não constituíram fator de crescimento para a enfermagem. Enclausurada nos hospitais religiosos, permaneceu empírica e desarticulada durante muito tempo, vindo a desagregar-se, ainda mais a partir dos movimentos de Reforma Religiosa e da conturbada Santa Inquisição. O hospital, já negligenciado, passa a ser um insalubre depósito de doentes, onde homens, mulheres e crianças utilizam as mesmas dependências, amontoados em leitos coletivos.
Sob exploração deliberada, considerada um serviço doméstico, pela queda dos padrões morais que a sustentava, a prática de enfermagem tornou-se indigna e sem atrativos para mulheres de classe social elevada. Esse processo de desinteresse pela enfermagem durou até o aparecimento do Capitalismo e a construção dos hospitais pelos grandes capitalistas. Este movimento inicia-se com a Revolução Industrial no século XVI que termina com o surgimento da Enfermagem moderna na Inglaterra, no século XIX.
Com o surgimento da figura de Florence Nightingale a enfermagem passou a ser direcionada por princípios e condutas norteadoras visando o aprimoramento desta atividade. Esta dama da alta sociedade, filha de pais ingleses mas de origem italiana, traz um conceito simples porém eficaz para as atividades da enfermagem, ela organizou as condutas daqueles que exerciam as atividades de cuidados com os doentes até aquele momento, Florence aplicou conceitos básicos de higiene, e educação doméstica que chamou de Teoria Ambientalista... (continua)