sexta-feira, 5 de julho de 2019
terça-feira, 15 de janeiro de 2019
Onde a enfermagem está na Casa Grande ou na Senzala???
Olá pessoal, sou o professor Silvio Nicolau, enfermeiro e
Mestre em enfermagem, hoje eu vim aqui pra dar um recadinho muito especial pra
vocês. Todo ano, no dia 12 de maio comemora-se o dia do enfermeiro e no dia 20
o dia do técnico e auxiliar de enfermagem, portanto, entre o dia 12 e 20 de maio comemora-se
a semana da enfermagem.
Esse período serve pra fazermos reflexões acerca da nossa profissão, uma profissão tão importante, mas pouco valorizada, muito esquecida e por vezes desrespeitada.
Esse período serve pra fazermos reflexões acerca da nossa profissão, uma profissão tão importante, mas pouco valorizada, muito esquecida e por vezes desrespeitada.
Na semana da enfermagem comemora-se também a
libertação dos escravos no Brasil. Por isso resolvi fazer essa analogia entre
estas duas situações tão distintas, mas com alguns pontos convergentes. Querem
saber quais são essas convergências??
Bem pessoal, na semana em comemoração a enfermagem,
infelizmente não temos muito o que comemorar, a enfermagem de Pernambuco tem os
piores vencimentos do Brasil, não é valorizada profissionalmente, nas
discussões de casos clínicos do doentes é sempre deixado em segundo plano, em
muitos casos não tem autonomia nas suas ações de gerenciamento.
Sendo assim, é possível enxergar relações de interesse que
envolvem a profissão de enfermagem e as classes dominantes da sociedade. Nos
últimos anos o espaço da enfermagem está encolhendo, inclusive a própria Política
Nacional de Atenção Básica, publicada em 2017 tira a autonomia da enfermagem em
vários procedimentos realizados nas Unidades Básicas de Saúde, sem falar na
Portaria 83 do Ministério da Saúde, que cria prerrogativas para que o Agente
comunitário de Saúde e o Agente de Combate às Endemias ocupem o lugar do
técnico de enfermagem, isso não pode continuar!!!
Diante de tantas imposições das classes hegemônicas da
sociedade em que vivemos, é possível perceber pelo menos três aspectos nos
quais podemos fazer um paralelo entre a enfermagem e a escravidão.
Quero destacar que em momento nenhum pretendo desqualificar
a profissão, faço aqui apenas um a reflexão sobre a realidade da profissão que
me abraçou e assim dou minha contribuição critica a grandiosa importância da
enfermagem na recuperação do paciente e é isso que poucos enxergam, ou não
querem ver.
O primeiro aspecto é a relação de exploração que existe em ambos os casos, a enfermagem
atualmente está sufocada na sociedade, humilhada, não tem vez, nem voz, não tem
representantes no poder e aqueles que poderiam defender a profissão, muitas
vezes estão olhando apenas pra si. No sistema escravocrata não era muito
diferente, os escravos tinham que se conformar com as condições precárias que
lhes eram oferecidas pelos senhores de engenho e não tinham o poder de
reivindicar, e nem tinham ninguém que pudesse os representar. A enfermagem é
exercida muitas vezes em condições precárias e mesmo assim não podemos
reclamar. Nossa voz é calada, existe sem sobra de dúvidas uma violência
simbólica em tudo isso!
Outro aspecto é a segregação
que há entre a enfermagem e as demais profissões da saúde, enquanto muitos conquistam ganhos financeiros, conquistam melhoria
na carga horária de trabalho, a enfermagem não consegue se organizar para
reivindicar nem suas melhorias. Temos o pior salário do Brasil, mesmo quando
comparados a estados menores, Vivemos como escravos que tem o mínimo pra se
manter, um profissional da saúde de nível médio ganha R$ 746 e um profissional de
nível superior R$ 1.600. Vivemos reféns de nos mesmos, as entidades de classe
que deveriam lutar por nós, simplesmente nos usam como financiadores de suas regalias
de pseudo representantes. Continuamos escravos daqueles que um dia foram
escravos também. E esse modelo
escravocrata da atualidade se repete nos dias de hoje na enfermagem, e com isso
é possível ver que temos em Pernambuco enfermeiros que irão ganhar salários de
pouco mais de R$ 1.200, e se essa
realidade se perpetuar, não haverá mais volta.
Comparando essa situação com o sistema escravocrata,
estudos indicam que Zumbi dos Palmares, que liderou um grupo de escravos a
formar sua própria organização social, o Quilombo, e que era contrario à
escravidão entre o branco e o negro, também possuía escravos para lhe servir. Tudo
isso é Semelhante ao que a enfermagem passa nos dias atuais, a enfermagem que
era escrava, vira senhor de engenho, e usa a mão de obra para o desfruto de
regalias e desmandos
O terceiro aspecto é a prisão,
que nos nossos dias é invisível, na qual estamos, e somos mantidos presos por correntes
invisíveis, as nossas correntes estão na nossa mente, na nossa forma de pensar
e de encarar a realidade. Somos acomodados, nos mantemos na senzala.
Ao analisarmos qualquer referencia de historia da saúde é
possível ver que durante séculos a enfermagem viveu as sombras da medicina,
tudo aquilo que seria feito pelo enfermeiro era orientado por médicos, não
tinha autonomia, não tinha sua propriedade intelectual. Ma era necessário que a
enfermagem conseguisse seu espaço, mas não houve preparo para que isso
ocorresse.
Insatisfeita, a enfermagem, assim como na abolição da
escravatura, conseguiu sua carta de alforria, no entanto assim como a Lei Aurea
libertou os escravos, fomos libertos da nossa escravidão da prisão física. Mas, assim como os escravos foram
libertos sem o devido cuidado de como iriam se adequar a essa liberdade, como
iram se manter sem ter terras para produzir, sem matéria prima para trabalhar e
sem as ferramentas necessárias para a efetivação do trabalho, a mesma coisa
aconteceu com a enfermagem.
Traçando esse paralelo com a enfermagem, vejam a semelhança
que existe, a enfermagem conquistou sua liberdade, mas quem continuou sendo
dono das terras “hospitais”? Quem continuou com a matéria prima para a
enfermagem atuar “os insumos hospitalares”? Quem é o senhor de engenho que
possui as maquinas e os instrumentos para que a enfermagem possa atuar?
Entendam, assim como aconteceu com os escravos
que buscaram sua libertação, mais do que merecida, eles não se prepararam pra viver
em liberdade, a enfermagem também não se preparou para se libertar das
correntes. Hoje existem correntes simbólicas que nos prendem a situações de
desrespeito com um profissional que se dedica a fazer um curso, seja de 02 anos
ou de 05 anos, e não tem as garantias que será um profissional valorizado. Existe
uma grande oferta de profissionais e o mercado vai estipular o valor que esse
profissional valerá, se a enfermagem não buscar sua valorização.
Durante décadas carregamos esse estigma de ser uma
profissão desprestigiada, não buscamos a real liberdade, que é a liberdade da
mente, quebrar as correntes invisíveis que ainda nos prendem a senzala.
É preciso que se construa uma identidade profissional que
compense todos esses danos que foram causados durante todas essas décadas
passadas. Mas pra isso é necessário o reconhecimento que nós falhamos ao criar
nosso quilombo, mas sem o devido preparo, e assim buscar a mudança necessária,
real, e com a participação de todos, de forma organizada. Caso contrario, se
não reconhecermos que falhamos, e tentarmos mudar, cobrar dos responsáveis, iremos
continuar sob o chicote do feitor e sob as atrocidades do senhor de engenho que
só quer usurpar a nossa mão de obra barata quase escrava.
É isso aí pessoal, essa foi minha contribuição sobre onde a enfermagem está na
Casa Grande ou na Senzala.
Se vocês
tiverem outros temas pra gente debate, deixa um comentário
Um
forte abraço a todos
Zumbi
tinha escravos: https://youtu.be/-p2ulE1fvOk
sexta-feira, 4 de janeiro de 2019
Por que escrever com caneta vermelha na enfermagem???
Estava aqui
refletindo um pouco sobre a enfermagem e sobre os hábitos e costumes que
carregamos durante anos e nunca nos questionamos o porquê de se fazer
determinadas coisas.
Eu sou o prof.
Silvio Nicolau, mestre em enfermagem e quero falar com vocês sobre o porquê que
nós da enfermagem escrevemos com a caneta vermelha durante o plantão noturno, e
os profissionais que trabalham de dia escrevem de azul ou preto.
Pra entender
um pouco mais nosso presente é preciso voltar no passado da profissão pra
observar como a enfermagem foi construída e como a profissão era vista pela
sociedade
Ao longo da história foi possível
perceber que não apenas a mulher tornou-se responsável pelos
cuidados prestados aos doentes, mas também exerciam esta função as pessoas que
não possuíam idoneidade moral, comumente vistas embriagadas e que frequentavam
locais de promiscuidade. Também era muito comum ver os pacientes que recebiam
alta hospitalar, mas que por não terem condições sociais de se sustentar
permaneciam nos hospitais, e em troca ofertavam os cuidados básicos a outros
doentes.
Nessas condições de precariedade, a
enfermagem permaneceu isolada por muito tempo, até a o surgimento da revolução
Capitalista, que estimulou a criação dos hospitais para que aqueles que
tivessem condições pudessem realizar seus tratamentos.
Historicamente
a enfermagem era tratada como subprofissão, por conta do tipo de pessoas que
eram recrutadas para trabalhar na assistência aos doentes. Mas com a criação
dos hospitais modernos, esse pessoal até então desqualificado precisaria ser
monitorado para que não cometessem erros, principalmente no horário da noite,
quando estes profissionais já estavam mais cansados de tanta sobrecarga de
trabalho.
As atividades noturnas que já eram
vigiadas por Florence, ganhavam novos contornos por conta das exigências que
eram impostas pela criação de um ambiente hospitalar moderno, e que iria
receber apenas os ricos que precisassem ser atendidos.
Diante deste cenário de
desorganização era preciso criar estratégias para manter o controle de serviços
prestados de forma empírica, para isto algumas condutas administrativas foram
adotadas pela enfermagem para legitimar o cuidar.
A principal idealizadora e ativista
de uma enfermagem organizada foi Florence Nightingale (1820-1910) que
destacava-se como modelo para princípios e indicadores de qualidade a uma
assistência de enfermagem mais padronizada.
Surgia a necessidade de chamar a
atenção deste profissional para aquilo que o médico prescrevia e que não
poderia ser esquecido.
Dito isto
vamos voltar ao presente.
Acredito que
foi assim que se iniciou esse costume de se escrever de vermelho no plantão
noturno. Entendo isto mas não concordo, porque de acordo com estudos
realizados sobre o significado das cores, o vermelho é uma cor pejorativa, e
não tem bons significados.
Vejam bem, é tão certo que o
vermelho possui grande simbologia na sociedade que o pesquisador Luciano Guimarães, autor
do livro A cor como informação: a construção da biofísica, lingüística e
cultura da simbologia das cores afirma que nas placas de trânsito o vermelho
representa a proibição.
O vermelho, desde a Idade Média, é a
cor do crime e do pecado, provavelmente por sua relação conotativa do sangue
derramado.
Os semáforos indicam o vermelho como
interdição ou para indicar perigo.
No futebol o
cartão vermelho indica a falta grave e a expulsão do jogador.
Na
farmacologia, o vermelho da tarja é a advertência ao uso do remédio.
A idéia de perigo está ainda nas
expressões do tipo “ficar no vermelho” nas situações deficitárias da
administração ou no limite do final do combustível do carro, como
também o vermelho é a cor de alerta do corpo, como ficar vermelho de vergonha
ou de raiva.
É ao mesmo tempo a cor das
correções das provas e a cor da nota abaixo do limite esperado
Agora, me
expliquem uma coisa qual é a justificativa pra escrever os horários das
medicações que a enfermagem vai fazer, com a cor vermelha no plantão da noite?
- Ah! É pra
saber que aquele horário é pra o noturno!
- E por acaso
a enfermagem é retardada que não sabe que só existe 22h, 24h da noite, e que 02
da manhã ou seis da manhã ainda fazem parte do plantão noturno?
É oportuno
salientar que a enfermagem, por vezes sobrecarregada de afazeres e obrigações,
passa a registrar seus cuidados sob olhares atentos aos erros e distorções, e
que com o destaque da cor vermelha deixa mais evidente que ali estão descritos
os registros de uma profissão passível de distorções e erros decorrentes
da má formação acadêmica ou por conta da sobre-carga de trabalho.
Mas como tudo
na vida, tem gente que acha legal...
Então eu
pergunto: se era pra destacar por que não coloca outra cor, têm tantas, verde,
azul, rosa, roxo, laranja...
Ah! E ainda tem mais um agravante
nessa historia de escrever de vermelho no plantão noturno:
Não existe
amparo legal pra que seja cobrado essa prática, você sabia???
No Brasil, o
art. 5º da CF, em seu inciso II afirma que ninguém será obrigado a fazer ou
deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei.
Eu mesmo já
pesquisei todas as resoluções do COFEN e não encontrei nada, nenhuma resolução
que obrigue o profissional de enfermagem a escrever de vermelho.
Inclusive apresentei essa pesquisa
no congresso do próprio COFEN, pra quem quiser conferir deixo o link do
trabalho disponível em: http://apps.cofen.gov.br/cbcenf/sistemainscricoes/anais.php?evt=13&sec=102&niv=6.1&mod=1&con=11191&pdf=1
E sendo assim
nosso conselho regulador da enfermagem, até a presente data não apresentou
nenhum amparo legal para que seja exigida essa prática de escrever de vermelho
a noite, e eu espero que não criem essa obrigatoriedade sem pé nem cabeça.
Até por que se fosse algo bom, ou
proveitoso, ou diferenciado as outras profissões da saúde sejam a medicina,
fisioterapia, nutrição, psicologia, serviço social [que dá plantão em
hospitais] já teriam copiado, e por que ninguém faz?? Só a enfermagem!!!
Com esta prática cria-se uma
dicotomia quanto a forma de registros e anotações das atividades assistenciais
e gerenciais da enfermagem, dicotomia esta, que não está respaldada por nenhum
amparo legal.
Para a enfermagem, registrar suas
ações é fator primordial, pois, deve-se levar em consideração seu aspecto legal
e ético, esses registros servem como facilitadores e determinantes em processos
judiciais. Inclusive até onde eu sei alguns Estados no Brasil já estão
orientando a não escrever de vermelho para que esse prontuário do paciente ao
ser utilizado pela justiça não perca qualidade de reprodução.
De forma velada é dada uma atenção
mais direta e torna-se mais prática a supervisão dos registros dos
profissionais de enfermagem que trabalham à noite se estes estiverem em
destaque dos demais profissionais que também trabalham no horário noturno, mas
que não estão diretamente expostos aos efeitos do cansaço físico e mental.
A Enfermagem
deve ser exercida com liberdade e autonomia, contudo a liberdade parece ser
oprimida diante de normas administrativas, e institucionais que condicionam e
delimitam a prática.
É possível afirmar que ocorre até repressão
à autonomia do enfermeiro e sua equipe, quando estes são obrigados a escrever
de vermelho, diferenciando os seus registros dos demais profissionais de saúde,
causando segregação, sem alguma alegação plausível.
Bem pessoal, reflitam um pouco sobre
como estamos conduzindo a enfermagem, e espero que tenham gostado desse
raciocínio e eu convido vocês a tentarem mudar as praticas que a muito tempo
fazemos mas que não há obrigatoriedade de lei.
Se você realmente acha que deve
escrever com uma cor diferente, escolhe outra.
Nos dias de hoje
existem varias formas de destacar uma informação importante, inclusive com o
uso do marca texto.
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