Olá pessoal, sou o professor Silvio Nicolau, enfermeiro e
Mestre em enfermagem, hoje eu vim aqui pra dar um recadinho muito especial pra
vocês. Todo ano, no dia 12 de maio comemora-se o dia do enfermeiro e no dia 20
o dia do técnico e auxiliar de enfermagem, portanto, entre o dia 12 e 20 de maio comemora-se
a semana da enfermagem.
Esse período serve pra fazermos reflexões acerca da nossa profissão, uma profissão tão importante, mas pouco valorizada, muito esquecida e por vezes desrespeitada.
Esse período serve pra fazermos reflexões acerca da nossa profissão, uma profissão tão importante, mas pouco valorizada, muito esquecida e por vezes desrespeitada.
Na semana da enfermagem comemora-se também a
libertação dos escravos no Brasil. Por isso resolvi fazer essa analogia entre
estas duas situações tão distintas, mas com alguns pontos convergentes. Querem
saber quais são essas convergências??
Bem pessoal, na semana em comemoração a enfermagem,
infelizmente não temos muito o que comemorar, a enfermagem de Pernambuco tem os
piores vencimentos do Brasil, não é valorizada profissionalmente, nas
discussões de casos clínicos do doentes é sempre deixado em segundo plano, em
muitos casos não tem autonomia nas suas ações de gerenciamento.
Sendo assim, é possível enxergar relações de interesse que
envolvem a profissão de enfermagem e as classes dominantes da sociedade. Nos
últimos anos o espaço da enfermagem está encolhendo, inclusive a própria Política
Nacional de Atenção Básica, publicada em 2017 tira a autonomia da enfermagem em
vários procedimentos realizados nas Unidades Básicas de Saúde, sem falar na
Portaria 83 do Ministério da Saúde, que cria prerrogativas para que o Agente
comunitário de Saúde e o Agente de Combate às Endemias ocupem o lugar do
técnico de enfermagem, isso não pode continuar!!!
Diante de tantas imposições das classes hegemônicas da
sociedade em que vivemos, é possível perceber pelo menos três aspectos nos
quais podemos fazer um paralelo entre a enfermagem e a escravidão.
Quero destacar que em momento nenhum pretendo desqualificar
a profissão, faço aqui apenas um a reflexão sobre a realidade da profissão que
me abraçou e assim dou minha contribuição critica a grandiosa importância da
enfermagem na recuperação do paciente e é isso que poucos enxergam, ou não
querem ver.
O primeiro aspecto é a relação de exploração que existe em ambos os casos, a enfermagem
atualmente está sufocada na sociedade, humilhada, não tem vez, nem voz, não tem
representantes no poder e aqueles que poderiam defender a profissão, muitas
vezes estão olhando apenas pra si. No sistema escravocrata não era muito
diferente, os escravos tinham que se conformar com as condições precárias que
lhes eram oferecidas pelos senhores de engenho e não tinham o poder de
reivindicar, e nem tinham ninguém que pudesse os representar. A enfermagem é
exercida muitas vezes em condições precárias e mesmo assim não podemos
reclamar. Nossa voz é calada, existe sem sobra de dúvidas uma violência
simbólica em tudo isso!
Outro aspecto é a segregação
que há entre a enfermagem e as demais profissões da saúde, enquanto muitos conquistam ganhos financeiros, conquistam melhoria
na carga horária de trabalho, a enfermagem não consegue se organizar para
reivindicar nem suas melhorias. Temos o pior salário do Brasil, mesmo quando
comparados a estados menores, Vivemos como escravos que tem o mínimo pra se
manter, um profissional da saúde de nível médio ganha R$ 746 e um profissional de
nível superior R$ 1.600. Vivemos reféns de nos mesmos, as entidades de classe
que deveriam lutar por nós, simplesmente nos usam como financiadores de suas regalias
de pseudo representantes. Continuamos escravos daqueles que um dia foram
escravos também. E esse modelo
escravocrata da atualidade se repete nos dias de hoje na enfermagem, e com isso
é possível ver que temos em Pernambuco enfermeiros que irão ganhar salários de
pouco mais de R$ 1.200, e se essa
realidade se perpetuar, não haverá mais volta.
Comparando essa situação com o sistema escravocrata,
estudos indicam que Zumbi dos Palmares, que liderou um grupo de escravos a
formar sua própria organização social, o Quilombo, e que era contrario à
escravidão entre o branco e o negro, também possuía escravos para lhe servir. Tudo
isso é Semelhante ao que a enfermagem passa nos dias atuais, a enfermagem que
era escrava, vira senhor de engenho, e usa a mão de obra para o desfruto de
regalias e desmandos
O terceiro aspecto é a prisão,
que nos nossos dias é invisível, na qual estamos, e somos mantidos presos por correntes
invisíveis, as nossas correntes estão na nossa mente, na nossa forma de pensar
e de encarar a realidade. Somos acomodados, nos mantemos na senzala.
Ao analisarmos qualquer referencia de historia da saúde é
possível ver que durante séculos a enfermagem viveu as sombras da medicina,
tudo aquilo que seria feito pelo enfermeiro era orientado por médicos, não
tinha autonomia, não tinha sua propriedade intelectual. Ma era necessário que a
enfermagem conseguisse seu espaço, mas não houve preparo para que isso
ocorresse.
Insatisfeita, a enfermagem, assim como na abolição da
escravatura, conseguiu sua carta de alforria, no entanto assim como a Lei Aurea
libertou os escravos, fomos libertos da nossa escravidão da prisão física. Mas, assim como os escravos foram
libertos sem o devido cuidado de como iriam se adequar a essa liberdade, como
iram se manter sem ter terras para produzir, sem matéria prima para trabalhar e
sem as ferramentas necessárias para a efetivação do trabalho, a mesma coisa
aconteceu com a enfermagem.
Traçando esse paralelo com a enfermagem, vejam a semelhança
que existe, a enfermagem conquistou sua liberdade, mas quem continuou sendo
dono das terras “hospitais”? Quem continuou com a matéria prima para a
enfermagem atuar “os insumos hospitalares”? Quem é o senhor de engenho que
possui as maquinas e os instrumentos para que a enfermagem possa atuar?
Entendam, assim como aconteceu com os escravos
que buscaram sua libertação, mais do que merecida, eles não se prepararam pra viver
em liberdade, a enfermagem também não se preparou para se libertar das
correntes. Hoje existem correntes simbólicas que nos prendem a situações de
desrespeito com um profissional que se dedica a fazer um curso, seja de 02 anos
ou de 05 anos, e não tem as garantias que será um profissional valorizado. Existe
uma grande oferta de profissionais e o mercado vai estipular o valor que esse
profissional valerá, se a enfermagem não buscar sua valorização.
Durante décadas carregamos esse estigma de ser uma
profissão desprestigiada, não buscamos a real liberdade, que é a liberdade da
mente, quebrar as correntes invisíveis que ainda nos prendem a senzala.
É preciso que se construa uma identidade profissional que
compense todos esses danos que foram causados durante todas essas décadas
passadas. Mas pra isso é necessário o reconhecimento que nós falhamos ao criar
nosso quilombo, mas sem o devido preparo, e assim buscar a mudança necessária,
real, e com a participação de todos, de forma organizada. Caso contrario, se
não reconhecermos que falhamos, e tentarmos mudar, cobrar dos responsáveis, iremos
continuar sob o chicote do feitor e sob as atrocidades do senhor de engenho que
só quer usurpar a nossa mão de obra barata quase escrava.
É isso aí pessoal, essa foi minha contribuição sobre onde a enfermagem está na
Casa Grande ou na Senzala.
Se vocês
tiverem outros temas pra gente debate, deixa um comentário
Um
forte abraço a todos
Zumbi
tinha escravos: https://youtu.be/-p2ulE1fvOk
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